Democracias de mentirinha

Um texto polêmico publicado pela revista AVENTURAS NA HISTÓRIA por Fábio Marton.

Levantamento estima que 41 países fazem eleições, mas são ditaduras.

Oficialmente, só duas nações do mundo admitem que não são democráticas. Uma delas é a Arábia Saudita, que é uma monarquia absolutista, e a outra é Mianmar, governada por uma ditadura assumida. Todos os demais países dizem que seus cidadãos são livres para se expressar, e isso inclui a China, a Síria, o Irã, o Paquistão... e o Zimbábue. O caso deste país africano é exemplar. Em março, Robert Mugabe, que controla o governo desde 1980, perdeu o primeiro turno das eleições locais para Morgan Tsvangirai. Mas, por meio de intimidação, Mugabe fez com que Tsvangirai desistisse de disputar o segundo turno. Em junho, Mugabe foi reeleito com 85,5% dos votos.
Por causa de exemplos como esse, não é recomendável levar em conta a opinião dos países a respeito de si mesmos. Mas existem entidades que fazem levantamentos independentes sobre o assunto. Uma das mais respeitadas é a ONG Freedom House, fundada em 1941 por Eleanor Roosevelt (1884-1962), esposa do presidente americano Franklin Roosevelt (1882-1945). No mais recente relatório do grupo, deste ano, 43 países são considerados “não-livres” (sendo que 41 deles fazem eleições, e Mianmar promete as suas para 2010), 60 são “parcialmente livres” e 90, “livres”. O Brasil era parcialmente livre desde a anistia política de 1979, e só se tornou livre em 2002, quando as eleições presidenciais provaram que temos alternância de poder.
De toda forma, não deixa de surpreender que as ditaduras se digam democráticas. Esse é um sinal de que os regimes abertos estão na moda, e isso é novidade. Aristóteles (384-322 a.C.) a definia como uma forma degenerada de república. No século 20, os fascistas diziam que ela era um jeito de as pessoas medíocres oprimirem o “grande homem”. E os marxistas tratavam o regime democrático como armação burguesa. Agora, como diz Marco Antônio Villa, historiador da Universidade Federal de São Carlos, “ao menos como idéia, a democracia é vitoriosa”.

Cale-se! Os endereços da mordaça
O mapa-múndi da liberdade e a situação de alguns países onde ela não existe



Cuba
Com a transmissão do comando de Fidel para seu irmão Raúl Castro, o único país considerado não-livre da América Latina avançou em direção à democracia. Mas o país ainda não permite a realização de greves, o funcionamento de sindicatos autônomos e as mudanças de endereço dos cidadãos.


Irã
O país tem um intrincado sistema político que mistura lei islâmica e eleições multipartidárias, em que o cargo maior não é o de presidente, mas de “líder supremo”, que não é escolhido pelo voto popular, e sim por um grupo de clérigos eleitos. Na prática, o sistema torna quase impossível a vida política da oposição.


Autoridade Nacional Palestina
A entidade, que é o embrião de um futuro Estado palestino, realizou eleições em 2004. O presidente escolhido foi Mahmoud Abbas, do grupo Fatah. Em 2006, o Hamas ficou com 74 dos 132 cargos legislativos, o que deu início a uma pequena guerra civil.


Rússia
Desde 1999, quando Vladimir Putin assumiu o poder, o país anda para trás em matéria de liberdade. Em 2008, a Rússia recebeu sua pior classificação desde 1989, quando ainda estava no regime soviético. Em maio, Putin elegeu seu sucessor e se transformou em primeiro-ministro.

China
A chamada “democracia com características chinesas” é um regime de partido único que não permite imprensa livre, censura a internet, proíbe manifestações e prende adversários. De quebra, a onda de bonança econômica significou uma grande chance de corrupção para a burocracia local.

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